Embalada pelos ecos da comemoração dos 70 anos da
libertação de Auschwitz, a sala de cinema traz à escola um
relato verídico desses tempos tão perturbadores da nossa história.
Pedro Cantinho Pereira, professor e escritor,
doutorado em História pela Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne),
apresenta entre nós o seu livro A Sombra
da Guerra – A história de Paul Freundlich, editado pela Chiado Editora.
Numa obra vívida, rigorosa e
intensa, o autor dá a voz a Paul, um alsaciano a quem o curso da história reservou
o papel de soldado na engrenagem do III Reich, numa guerra onde “não havia
ideologia nem piedade, só determinação solidária na luta pela sobrevivência”,
“como um exército de guerreiros autómatos sem inimigos, prontos a vender caro a
sua própria vida”.
Mas, para além do
inestimável testemunho histórico, este livro é também o lugar onde o autor se
confronta com as suas próprias histórias: as que viveu (Lisboa, Estrasburgo,
Paris, Lagos...) e, também, as que poderia ter vivido se a Revolução de Abril
se não tivesse interposto entre si e o destino anunciado na guerra colonial.
Contado assim, na primeira
pessoa, e dando voz a um protagonista de uma história indesejada de que não se
orgulha, este livro de Pedro Cantinho Pereira fornece-nos uma base histórica
rigorosa que nos permite revisitar esta época trágica com um outro olhar,
guiados pela experiência de um jovem alsaciano a quem a guerra retirou a
cidadania francesa e que, feito alemão à força, teve de defender a Alemanha
nazi na II Guerra Mundial.
Assim, podemos acompanhar o
dia a dia de um soldado nas trincheiras mais fragilmente expostas, perceber a
importância de umas meias usadas confiscadas a um camarada já morto,
surpreendermo-nos com a felicidade que um banho ou uma refeição quente podem proporcionar,
chocarmo-nos com o pragmatismo das chefias que ordenam que se abandonem os
feridos numa retirada ou, ainda, enternecermo-nos com o facto de uma carta
amarfanhada da namorada poder fazer mais pela moral de um soldado do que as
vitórias no campo de batalha, por mais grandiosas que fossem.
Felizmente para nós,
leitores, o rigor histórico não impediu o autor de abordar de um ponto de vista
existencial e filosófico os efeitos que as guerras, vividas diretamente ou
pelos que nos são próximos, desencadeiam
inevitavelmente em todos os povos que são envolvidos na sua engrenagem. Por
isso, não surpreende a profusão de referências psicologicamente perturbadoras,
de perguntas filosoficamente relevantes, de relatos inquietantes na primeira
pessoa:
“Houve uma pergunta dele à qual a mãe nunca conseguiu
responder, apesar da fé: E se eu tiver de
matar para não morrer?”
“Quando não tens nada para
fazer, o cérebro começa a funcionar, o que é nefasto para o soldado nas frentes
de combate”.
“Pela primeira vez, questionou-se
verdadeiramente sobre o rumo a dar à sua vida. Não seria melhor fugir para a França Livre? Sente uma angústia muito
grande, pois tal seria pôr em risco a família.”
“O que fazer? Decidiu respeitar a lei e a ordem vigentes e aceitar o
destino que lhe traçavam. Depois logo se veria o que fazer. Mal sabia ele então
que tinha entrado numa engrenagem infernal.”
“Ao virar de uma esquina, Paul
deu de caras com ‘um jovem soldado com um capacete russo demasiado grande, que
lhe balançava na cabeça, e que lhe gritou stoi (stop)’, colocando-se
rapidamente em posição de tiro, pronto a disparar. Numa fração de segundo, por
instinto, Paul disparou ainda com a espingarda junto à anca, à queima-roupa.
Acertou-lhe em cheio no peito. Ao cair por terra, como em câmara lenta, os
olhares cruzaram-se e Paul observou, num ápice, o olhar de estupefação e
incompreensão no soldado atingido. Paul não sabe se ele morreu ou não, pois
fugiu rapidamente do local sem se virar, mas o olhar do outro ficou-lhe na
memória para sempre.”
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Pedro Cantinho Pereira.
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Fica o convite: 4ª feira, dia 4/02/2015, às 10 h e 30
minutos, no auditório da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes.
Depois da comunicação e do debate que se lhe seguirá,
serão colocados livros à venda e haverá sessão de autógrafos pelo autor.
Como complemento a esta iniciativa, a sala
de cinema exibirá para os alunos interessados um filme relativo à II
Guerra Mundial no dia 5/02/2015, 5ª feira, pelas 14 h e 30 minutos, também no
auditório da escola. O filme a exibir será escolhido pelos alunos presentes de
entre três hipóteses disponíveis.