Acabou de entrar numa área reservada a pessoas curiosas e inconformadas. Temos o dever de informar que experiências recentes indiciam que o uso do cinema na sala de aula prejudica gravemente o tédio.

Somos a sala de cinema. Se podíamos viver sem o cinema na escola? Podíamos, mas não era a mesma coisa.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

"Os Gatos Não Têm Vertigens", de António-Pedro Vasconcelos


Na véspera da visita do realizador António-Pedro Vasconcelos como convidado da XVI Conferência de Filosofia da Teixeira Gomes, a sala de cinema exibiu hoje o seu último filme.

Foi a primeira vez que alguns alunos viram um filme português. A esmagadora maioria disse ter gostado muito.


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Quando não nos perguntam por quem queremos combater: a II Guerra Mundial vista do ponto de vista de um soldado alsaciano obrigado a lutar pelo III Reich.


Embalada pelos ecos da comemoração dos 70 anos da libertação de Auschwitz, a sala de cinema traz à escola um relato verídico desses tempos tão perturbadores da nossa história.

Pedro Cantinho Pereira, professor e escritor, doutorado em História pela Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne), apresenta entre nós o seu livro A Sombra da Guerra – A história de Paul Freundlich, editado pela Chiado Editora.

     Numa obra vívida, rigorosa e intensa, o autor dá a voz a Paul, um alsaciano a quem o curso da história reservou o papel de soldado na engrenagem do III Reich, numa guerra onde “não havia ideologia nem piedade, só determinação solidária na luta pela sobrevivência”, “como um exército de guerreiros autómatos sem inimigos, prontos a vender caro a sua própria vida”.

     Mas, para além do inestimável testemunho histórico, este livro é também o lugar onde o autor se confronta com as suas próprias histórias: as que viveu (Lisboa, Estrasburgo, Paris, Lagos...) e, também, as que poderia ter vivido se a Revolução de Abril se não tivesse interposto entre si e o destino anunciado na guerra colonial.

     Contado assim, na primeira pessoa, e dando voz a um protagonista de uma história indesejada de que não se orgulha, este livro de Pedro Cantinho Pereira fornece-nos uma base histórica rigorosa que nos permite revisitar esta época trágica com um outro olhar, guiados pela experiência de um jovem alsaciano a quem a guerra retirou a cidadania francesa e que, feito alemão à força, teve de defender a Alemanha nazi na II Guerra Mundial.

     Assim, podemos acompanhar o dia a dia de um soldado nas trincheiras mais fragilmente expostas, perceber a importância de umas meias usadas confiscadas a um camarada já morto, surpreendermo-nos com a felicidade que um banho ou uma refeição quente podem proporcionar, chocarmo-nos com o pragmatismo das chefias que ordenam que se abandonem os feridos numa retirada ou, ainda, enternecermo-nos com o facto de uma carta amarfanhada da namorada poder fazer mais pela moral de um soldado do que as vitórias no campo de batalha, por mais grandiosas que fossem.

     Felizmente para nós, leitores, o rigor histórico não impediu o autor de abordar de um ponto de vista existencial e filosófico os efeitos que as guerras, vividas diretamente ou pelos que nos são próximos,  desencadeiam inevitavelmente em todos os povos que são envolvidos na sua engrenagem. Por isso, não surpreende a profusão de referências psicologicamente perturbadoras, de perguntas filosoficamente relevantes, de relatos inquietantes na primeira pessoa:

     “Houve uma pergunta dele à qual a mãe nunca conseguiu responder, apesar da fé: E se eu tiver de matar para não morrer?”

     “Quando não tens nada para fazer, o cérebro começa a funcionar, o que é nefasto para o soldado nas frentes de combate”.

     “Pela primeira vez, questionou-se verdadeiramente sobre o rumo a dar à sua vida. Não seria melhor fugir para a França Livre? Sente uma angústia muito grande, pois tal seria pôr em risco a família.”

     O que fazer? Decidiu respeitar a lei e a ordem vigentes e aceitar o destino que lhe traçavam. Depois logo se veria o que fazer. Mal sabia ele então que tinha entrado numa engrenagem infernal.”

     “Ao virar de uma esquina, Paul deu de caras com ‘um jovem soldado com um capacete russo demasiado grande, que lhe balançava na cabeça, e que lhe gritou stoi (stop)’, colocando-se rapidamente em posição de tiro, pronto a disparar. Numa fração de segundo, por instinto, Paul disparou ainda com a espingarda junto à anca, à queima-roupa. Acertou-lhe em cheio no peito. Ao cair por terra, como em câmara lenta, os olhares cruzaram-se e Paul observou, num ápice, o olhar de estupefação e incompreensão no soldado atingido. Paul não sabe se ele morreu ou não, pois fugiu rapidamente do local sem se virar, mas o olhar do outro ficou-lhe na memória para sempre.”

Pedro Cantinho Pereira.

Se quiser saber mais sobre o autor clique aqui.

Fica o convite: 4ª feira, dia 4/02/2015, às 10 h e 30 minutos, no auditório da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes.

Depois da comunicação e do debate que se lhe seguirá, serão colocados livros à venda e haverá sessão de autógrafos pelo autor.

Como complemento a esta iniciativa, a sala de cinema exibirá para os alunos interessados um filme relativo à II Guerra Mundial no dia 5/02/2015, 5ª feira, pelas 14 h e 30 minutos, também no auditório da escola. O filme a exibir será escolhido pelos alunos presentes de entre três hipóteses disponíveis.